domingo, 21 de abril de 2024

Os limites de velocidade

 

https://www.msn.com/pt-pt/noticias/other/limite-de-velocidade-em-autoestradas-segue-tabu-na-alemanha/ar-AA1nnLEZ?ocid=msedgdhp&pc=EDGEESS&cvid=c65af543260349b2a38e7fab6d2554c2&ei=49

Parece haver uma correlação entre os partidos ditos liberais, que defendem uma iniciativa com regulação mínima e autoestradas sem limites ou poucos limites, e os partidos de planeamento abrangente e velocidade regulada. Curiosamente, nas filas ou engarrafamentos vemos automobilistas mudando sucessivamente de via para se posicionarem à frente dos outros que, de acordo com o código da estrada, aguardam que a fila da sua via avance. Não é uma boa metáfora? Assim como assim, não era o que o lobo de La Fontaine dizia ao cordeiro, se eu posso mudar de via porque não o hei-de fazer? (ele dizia doutra maneira mais definitiva, mas por isso é que é metáfora).

Sobre as autoestradas alemãs, suponho que ainda existe a imposição automática de um limite de velocidade em função do atingimento de uma afluência excessiva (porque em situação de excesso de afluência o conjunto de veículos desloca-se em veículos/hora a um valor mais alto a uma velocidade mais baixa do que alta. por um abrandamento dar tempo ao veículo seguinte a abrandar com a mesma desaceleração).

quinta-feira, 11 de abril de 2024

A propósito dos resultados eleitorais e da proposta de mudança do sistema eleitoral

 

A propósito dos resultados eleitorais e da proposta de mudança do sistema eleitoral

 

Começo por evocar o matemático Charles Borda, autor do sistema de voto ponderado ou preferencial. É utilizado no concurso da Eurovisão, e é rejeitado nas eleições legislativas de todos os países. Cada votante atribui, por exemplo 12 votos ao seu preferido, 10 votos ao segundo e por aí fora em função do número de candidaturas e de eleitores inscritos, sendo obrigado a atribuir todos os seus votos. Assegura tanto melhor a representação quanto maior a diversidade. Curiosamente, foi no seu tempo rejeitado por Napoleão, que, como tinha alguns conhecimentos de matemática, percebeu que não lhe convinha.

Este é um exemplo da distancia que os decisores políticos gostam de manter relativamente às hipóteses de melhor representação da vontade popular e, por maioria de razão, às hipóteses de participação dos cidadãos nos assuntos públicos.

O que me leva a revisitar a Constituição da República portuguesa, que no seu artigo 48.1 diz com clareza:

Todos os cidadãos têm o direito de tomar parte na vida política e na direção dos assuntos públicos do país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente eleitos.

Diz também a constituição no artigo 149.1:

Os Deputados são eleitos por círculos eleitorais geograficamente definidos na lei, a qual pode determinar a existência de círculos plurinominais e uninominais, bem como a respetiva natureza e complementaridade, por forma a assegurar o sistema de representação proporcional e o método da média mais alta de Hondt na conversão dos votos em número de mandatos.

Diz ainda  a constituição no artigo 13.2, de forma particularmente assertiva:

Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito … em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

Então vejamos qual o grau de igualdade entre cidadãos no que toca ao sistema eleitoral. Tome-se como indicador o número de votos válidos por deputado eleito, para cada partido candidato.

Tomás Júdice, no seu artigo (ver em Referências) estima em cerca de 760.000 votos os que se desperdiçaram, isto é, os 230 deputados dos 22 círculos eleitorais teriam sido eleitos com a mesma distribuição se esses votantes tivessem ficado em casa. Pormenorizando, o número médio de votos válidos para eleger cada um dos 230 deputados nas eleições de 10 de março foi de 26.912. Mas os 3 partidos mais votados só precisaram de cerca de 23.200 votantes para elegerem cada deputado. A IL precisou de 40.000 e os partidos de esquerda de pouco mais de 50.000 cada. Pior, o PAN precisou de mais de 126.000 e a ADN com mais de 100.000 votos não tem representação. Na Madeira, 2 deputados foram eleitos com pouco mais de 14.000 votos cada.

Diz a Constituição  no art 13 que os cidadãos são iguais perante a lei. Cerca de 700.000 votantes (12% do total), se se tivessem abstido, não teriam alterado os resultados. 

Não deve haver muitos indicadores de incumprimento da constituição de maior gravidade do que este.

E contudo, perante a indiferença da maioria dos comentadores e dos constitucionalistas, tudo continua incapaz da correção. Há uma honrosa exceção nos constitucionalistas, e peço desculpa se existem outras que desconheço. Jorge Miranda apresentou também uma proposta de redução do número de círculos eleitorais para melhorar a proporcionalidade (ver em Referências).

Por outro lado, há muito que grupos de cidadãos veem reivindicando a adoção de círculos uninominais, possíveis conforme o artigo 149, o qual mantem a viabilidade de círculos plurinominais e determina o método de Hondt para cálculo do número de mandatos. Têm-se oposto as cúpulas partidárias, inviabilizando assim a participação cidadã do artigo 48.1 já referido, sem que o Tribunal Constitucional considere haver motivo para intervenção.

Enquanto não se consegue ultrapassar o obstáculo que se opõe aos círculos nominais surgiu a proposta de criação de um circulo de compensação para recuperar os votos desperdiçados por não terem conseguido eleger um deputado. Os votos desperdiçados acumulam-se devido ao elevado número de círculos eleitorais, em que os partidos mais pequenos não conseguem eleger um deputado, desperdiçando-se assim os poucos votos, perdidos nos sucessivos círculos.  Dotar um circulo de compensação com 20 deputados adicionais a juntar aos 226 de Portugal continental e regiões autónomas e aos 4 da emigração foi o ensaio de Luis Conraria para comparação com os resultados eleitorais das legislativas de 10 de março de 2024.

Talvez que o conceito de votos perdidos por um partido não seja calculável de modo unívoco, uma vez que reduzindo o número de votos de um partido pode alterar-se a distribuição pelos outros partidos dos mandatos de deputado. Poderá então utilizar-se como critério de avaliação da falta de proporcionalidade, entre os votos e os mandatos, o cálculo do valor médio de votos por deputado eleito, contabilizando o número de votos em partidos cuja média por deputado tenha sido superior. O número de votos por deputado de cada partido será assim o indicador de satisfação da proporcionalidade constitucional, sendo necessário, para melhorar o indicador, reduzir o número de círculos ou introduzir um círculo de compensação (semelhante ao dos Açores) mantendo o número de deputados.

Perante tudo isto, seria razoável que a assembleia da República dinamizasse um debate público aberto e informado para melhorar o sistema de conversão de votos em mandatos e a própria natureza dos circulos.

Sem contudo esquecer a conjetura do prémio Nobel de Economia Kenneth Arrow, que é impossível um sistema eleitoral que satisfaça todos os requisitos da democraticidade, desde a proporcionalidade (representatividade) à governabilidade (interesse público). 

Complicando a proposta, porque teria de se remodelar a CRP (sublinho remodelar e não refazer, para quem tenha dúvidas entre estes dois termos, eventualmente porque terão diferentes custos indiretos associados), seria interessante considerar a hipótese de criação de um conjunto de círculos uninominais (1 mandato por círculo; 25 círculos correspondentes às NUT III) cujos deputados exercessem funções de fiscalização da correta ligação das comissões especializadas da AR com os cidadãos e da integração das respetivas regiões geográficas nas políticas de coesão nacional numa perspetiva de responsabilização nominal do deputado perante os seus eleitores. Seria uma variante do sistema bicameral de deputados, com candidatos que pudessem propor-se independentemente dos partidos, apoiados evidentemente num número mínimo de proponentes. Limitar-se-ia também assim a tendência autocrática dos dirigentes partidários de topo que gostam de mandar nas listas de candidatos, ao mesmo tempo que medidas pela transparência e de proteção dos canais de comunicação combateriam o caciquismo.

Admitindo o aumento dos deputados da emigração para 6 (representação proporcional simples) e reduzindo dos atuais 22 para 7 círculos (Norte+Centro+Lisboa e Vale do Tejo+Sul+Açores+Madeira+Emigração), teríamos, mantendo o total de 230 deputados, 6 círculos com 199 deputados, mais 1 círculo (emigração) com 6 deputados, constituindo a câmara 1, e mais 25 círculos uninominais com 25 deputados constituindo a câmara 2. 

 

Resumindo, temos as seguintes sugestões:



1 – Sistema atual: 22 circulos, sendo 226 deputados para 20 circulos no território nacional + 4 deputados para 2 circulos de emigração
2 - 7 circulos, sendo 226 deputados para 6 circulos no território nacional + 4 deputados para 1 circulo de emigração
3 - 2 circulos, sendo 226 deputados para 1 circulo único no território nacional + 4 deputados para 1 circulo de emigração
4 - 11 circulos (proposta Tomás Júdice), sendo 226 deputados para 10 circulos no território nacional + 4 deputados para 1 circulo de emigração
5 - 16 circulos (proposta Jorge Miranda), sendo 224 deputados para 15 circulos no território nacional + 6 deputados para 1 circulo de emigração
6 - 22 circulos com compensação (proposta Luis Conraria), sendo 226 deputados para 20 circulos no território nacional + 4 deputados para 1 circulo de emigração + 20 deput para 1 circulo de compensação
7 - 7 circulos mais 25 uninominais, sendo 199 deputados para 6 circulos no território nacional + 6 deputados para 1 circulo de emigração + 25 deputados para 25 circulos uninominais
8 - 22 circulos (20 circulos território nacional/ 226 mandatos + 2 circulos emigração/ 4 mandatos), proporcionalidade estrita deputados/votos
9 – 22 circulos (20 circulos território nacional para 206 mandatos + 1 circulo compensação com exclusão dos 206 quocientes atribuidos e seleção dos 20 quocientes mais elevados como mandatos de compensação + 1 circulo emigração com 4 mandatos

 

Pretende-se comparar as várias versões quanto:

- ao número de votos por cada deputado para cada lista, relativamente ao valor médio para todos os deputados
- ao somatório de votos nas listas que não elegeram deputados
- ao somatório S1 de votos acima da média nas listas que elegeram deputados
- ao somatório S2 de votos que seriam suficientes para as listas com votos por deputado acima da média elegerem esses deputados com uma votação igual à média
- à diferença S2 – S1 como critério dos votos desperdiçados em cada versão

Para cada uma das versões sugeridas, para comparação com a situação em vigor atualmente, determinei ou utilizei (se disponibilizado pela CNE) o número de mandatos  de deputados para cada círculo ou área geográfica. Determinei igualmente, para cada uma das versões, o número de deputados para cada uma das candidaturas, ou partidos, calculando o número de votos por deputado e o afastamento do montante da votação de cada partido relativamente à média de votos por deputado. Em ambos os cálculos utilizei o simulador do método de Hondt disponibilizado no sítio do ministério  da administração interna        https://www.sg.mai.gov.pt/AdministracaoEleitoral/MetodoHondt/Paginas/default.aspx       e  baseei-me nos resultados oficiais da CNE

         https://www.cne.pt/sites/default/files/dl/2024_ar_mapa_oficial_dr.pdf

 



 


 


Os quadros obtidos podem ser vistos como ficheiros   .png e os rascunhos em Excel   no  one drive  em

 https://1drv.ms/i/s!Al9_rthOlbwezlA8SdUymmgxeOQ3?e=af5SxD

 

As versões em vigor e as versões de Tomás Júdice e Jorge Miranda, dado o elevado número de circulos, têm o maior somatório de votos em partidos que não elegeram deputados (respetivamente 750.000 , 590.000 e 750.000 votos desperdiçados). A versão circulo único (350.000 votos desperdiçados) tem o menor número de votos em partidos que não elegeram deputados, e isso é um dado importante.

Os  mandatos obtidos por proporcionalidade estrita com arredondamento para as décimas mais próximas da unidade  (20 + 2 circulos  e   226 + 4 deputados)  exibem naturalmente a menor dispersão entre os votos por deputado por partido. Uma vez que o objetivo do método de Hondt é reforçar a representação dos partidos mais votados, a versão circulo único no território nacional em oposição à versão em vigor é a que se aproxima mais aproxima da proporcionalidade . Nesta versão de circulo único  seria possível a um partido com uma votação ligeiramente inferior à média de votos por deputado, ter um deputado. O partido que teve cerca de 50.000 votos e zero deputados teria 3. O partido que teve 126.000 votos e apenas 1 deputado teria 4. Também o número de votos desperdiçados diminui à medida que o número de círculos se reduz. O sistema de proporcionalidade estrita teria apenas como votos desperdiçados o somatório dos votos dos partidos que não elegeram deputados, tendo a versão circulo único o menor indicador de votos desperdiçados (138.000 votos contra 753.000 votos desperdiçados). Curiosamente, a versão que a seguir apresenta menos votos desperdiçados é a do circulo de compensação de 20 deputados (295.000 votos desperdiçados, sendo que a versão Luis Conraria que apresenta menos votos desperdiçados é para 250 e não 230 deputados ).

A versão com circulos uninominais registada no quadro acima prevê 25 circulos uninominais para 25 mandatos, 20 circulos do território nacional para 199 mandatos e 1 circulo para 6 deputados de emigração. As vantagens dos circulos uninominais são contrabalançadas por maior número de votos desperdiçados (537.000 votos desperdiçados - por ter sido reduzido o número de mandatos dos 20 circulos do território nacional). Ver abaixo em Referências um exemplo de uma simulação para determinação da distribuição de 66 mandatos na área geográfica-circulo de Lisboa e Vale do Tejo segundo os votos das eleições de 10 de março (versão incluindo 6 circulos com 199 mandatos + 1 circulo emigração com 6 mandatos + 25 circulos uninominais utilizando o simulador do MAI).

 

O cálculo do número de deputados na versão Luis Conraria seguiu o seguinte processo:


1 - consideração da distribuição dos 230 deputados segundo o sistema eleitoral em vigor (20 circulos do território nacional mais 2 circulos de emigração)
2 – distribuição do nº de mandatos por cada partido num circulo único no território nacional (total 230 mandatos)
3 - comparação entre as distribuições de 1 e 2, atribuindo a cada lista o maior número de deputados das duas distribuições, atingindo-se o total de 250 deputados

O recurso ao circulo de compensação poderá ser evitado reduzindo o número de círculos, como se pode ver na linha de votos desperdiçados. Em princípio com o circulo de compensação ter-se-á maior número de votos desperdiçados do que na versão de circulo único para o território nacional, mas isso  deverá ser aprofundado. Considerando o interesse no equilíbrio entre os circulos reduzindo o seu número e aumentando o grau de proporcionalidade, poderá conseguir-se esse equilíbrio ao mesmo tempo com a melhoria da coesão territorial, atendendo à desigualdade atual entre os 18 distritos. Poderá utilizar-se a estrutura das regiões NUT II e NUT III para a reorganização dos circulos eleitorais e eventualmente para a criação de segunda câmara com votação  uninominal dos deputados. Para melhoria da coesão parecerá melhor integrar  as regiões do interior com as do litoral, em vez de as agregar no interior.

 

Considerando o ensaio com o simulador da IL para o circulo de compensação         https://circulocompensacao.streamlit.app/          chega-se a resultados diferentes da versão de Luis Conraria. Tentei fazer os cálculos segundo as regras da região autónoma dos Açores (ver ligação em referências) e cheguei a resultados semelhantes aos do simulador da IL que são os que constam do quadro acima. Curiosamente, para um circulo de compensação de 20 deputados, o número de deputados para os 20 circulos do território nacional do segundo partido globalmente mais votado teria mais deputados do que. Isso verificar-se-ia apenas entre 15 e 25 mandatos do circulo de compensação. É mais uma inconsistência que o método de Hondt tem que justificaria a sua correção. Isso acontece porque o número de mandatos a distribuir por todos os circulos do territorio nacional é igual a 230 menos os 4 deputados da emigração e menos os 20 deputados de compensação e, considerando a distribuição não proporcional de mandatos pelos votos em cada circulo, haverá mais desperdícios no partido mais votado globalmente  nuns circulos, e noutros maior desperdício de votos no segundo partido mais votado globalmente (situação semelhante pode acontecer em sistemas predominantemente uninominais como se verificou nas eleições dos USA de 2000 em que Bush ganhou as eleições com menos 500.000 votos do que Al Gore).

 

 Consultando as regras da região dos Açores, segui os seguintes passos para 20 deputados no circulo de compensação e um total  de 230 deputados:

1 -  Determinação do número de mandatos para cada círculo dos 20 circulos do território nacional num total de  206 deputados (206 = 230 nºtotal de deputados – 4 nºdeputados  de fora do território nacional – 20 nºdeputados do circulo de compensação) através das listas de quocientes decrescentes das sucessivas divisões por 1,2,3, etc. dos votos de cada lista circulo a circulo (ou recorrendo ao simulador MAI)

2 – elaboração de tabela de quocientes decrescentes das sucessivas divisões por 1,2,3,etc. do total de votos em cada lista no conjunto dos 20 circulos do território nacional  e eliminação dos quocientes mais elevados em igual número dos 206 mandatos já atribuidos conforme 1  (existe uma pequena incongruência: os quocientes do ponto 1 são calculados para os votos de cada lista em cada circulo, e os quocientes do ponto 2 são calculados para a votação em cada lista no conjunto de todos os circulos; a esclarecer igualmente se na contabilização da votação global deverá ser incluída a votação do circulo ou circulos de emigração)

 3 –alocação dos 20 mandatos de compensação na matriz de quocientes não excluídos por ordem decrescente dos quocientes

4 – adição dos deputados determinados em 1 e 3 (adicionar também os 4 deputados do circulo de emigração)

 

Com o simulador MAI obteve-se a distribuição de deputados indicada à direita do quadro acima que se reapresenta de seguida (repete-se que devido à inconsistência do sistema eleitoral resultou mais deputados para o segundo partido mais votado):

 

 

20 circulos    

Compen

sação

Emigr

ação

totais

AD

71

0

1

72

PS

72

0

1

73

CH

44

0

2

46

IL

8

2

 

10

BE

4

5

 

9

PCP

3

4

 

7

L

3

3

 

6

PAN

1

3

 

4

ADN

0

3

 

3

totais

206

20

4

230

 

 

 Seleção dos 20 mandatos do circulo de compensação (a amarelo) após exclusão dos 206 quocientes correspondentes aos mandatos atribuidos circulo a circulo:



Finalmente, recorda-se a petição pública de janeiro de 2022 para uma maior conversão de votos em mandatos (ver a ligação em referências).

 

 

CONCLUSÃO : Parece estarmos perante um paradoxo constitucional. Por um lado a Constituição sublinha a proporcionalidade da representação, mas na prática o método de Hondt favorece os partidos com mais eleitores, retirando mandatos aos partidos de menor votação, ainda que os seus votantes excedam em muito a média geral de votos por mandato. O argumento principal de defesa do método é o da governabilidade, como se não fosse evidente o carater paternalista deste argumento, receoso de uma incapacidade de entendimento entre os partidos sem maioria.

A cidadania não é uma prática clubista em que só se veem os méritos do próprio clube e as deficiências dos outros clubes. A disciplina científica e os métodos de otimização da gestão e da produtividade das instituições impõem que as divergências partidárias fiquem para segundo plano. A cooperação com prioridade sobre a competição.

Para sairmos do paradoxo constitucional, sugere-se que a Assembleia da República considere todas as sugestões já apresentadas pelos cidadãos e dinamize um debate participado e informado. Sem prejuízo disso, sugere-se numa primeira fase, para aumentar o grau de proporcionalidade,  reduzir  o mais possível o número de círculos eleitorais, preferencialmente indo até ao círculo único (em alternativa a um círculo de compensação como o existente nos Açores), previsto na Constituição. Na primeira fase deveria incluir-se também a votação eletrónica, sugerindo-se, para proteção contra fraudes, o contacto com o sistema eleitoral eletrónico da Estónia, já com a experiência de sucesso de vários anos.

Prevista também na Constituição a existência de círculos uninominais, com candidaturas de cidadãos não necessariamente sob tutela partidária (como previsto na Constituição) o que poderia ficar para uma segunda fase. A terceira fase imporia a revisão da Constituição, seria a criação duma segunda câmara sem aumento do número total de deputados, por exemplo para agilizar o trabalho das comissões especializadas da AR e supervisão do trabalho das NUT III e das entidades reguladoras. Tudo sem prejuízo da redução do número de círculos e de se estudar a viabilidade a curto prazo de um circulo de compensação e, a mais longo prazo, de outros métodos de distribuição de mandatos.

 

Nada fazer tem o grande risco do crescimento do populismo (políticas demagógicas assentes em factos não comprovados, ao arrepio do método científico), no predomínio da autocracia das cúpulas partidárias, da sujeição destas e das entidades reguladoras aos grandes lóbis, e no aumento da abstenção de grande parte da população e na perda de confiança nas instituições políticas e da Justiça. O que só confirmaria o destino receado por Luis Vaz, irmos vivendo, uns mais que outros silenciosa e discretamente, nesta apagada e vil tristeza de contido crescimento económico.

 

 

Referências:

Ligações para os artigos de Tomás Júdice, Luis Conraria, Jorge Miranda e outros sobre o tema do sistema eleitoral


https://www.publico.pt/2024/03/31/opiniao/opiniao/votos-mandatos-2085382
https://expresso.pt/politica/eleicoes/legislativas-2024/2024-03-13-Como-seriam-os-resultados-das-eleicoes-com-um-circulo-de-compensacao--Uma-coisa-e-certa-o-ADN-entrava-no-Parlamento-dced03ea
https://www.publico.pt/2024/04/06/opiniao/opiniao/cinquenta-anos-melhorar-regras-eleitorais-2085952
https://www.publico.pt/2024/04/07/politica/noticia/votos-inuteis-2086096
https://www.publico.pt/2024/03/18/politica/noticia/quase-12-milhoes-votos-nao-serviram-eleger-deputados-2084008
https://sedes.pt/wp-content/uploads/2023/07/210824_SEDES-APDQ_apresentacao_105_circulos_uninominais.pdf
https://observador.pt/opiniao/os-tres-erros-do-nosso-sistema-eleitoral/
https://diferencial.tecnico.ulisboa.pt/artigo/o-sistema-eleitoral-portugues-quando-680-mil-votos-nao-elegem-um-deputado/

petição para uma maior conversão dos votos em mandatos

https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=omeuvoto

sobre os métodos de Hondt, de Saint-Laguë e outros, ver

https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_de_Sainte-Lagu%C3%AB
https://expresso.pt/opiniao/2024-02-22-Nao-da-para-compensar-5cabb521

explicação do método de seleção dos mandatos de compensação nos Açores (art.16 da lei da RAA):

https://www.sg.mai.gov.pt/AdministracaoEleitoral/Legislacao/Documents/Doc_Lei_RAAcores.pdf

 

exemplo de distribuição de 66 mandatos em cada um de 6 novos circulos agregados conforme a versão  199 mandatos em 6 circulos + 25 mandatos no circulo de compensação + 6 mandatos no circulo de emigração usando o simulador do MAI:

 



 

 

 

 

 

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Email enviado à comunicação social sobre a escola Afonso Domingues e a urbanização do Sporting Campo Novo

Peço desculpa por estar a escrever em estado de indignação, mas vou tentar ser breve. 

Sobre a Afonso Domingues (pobre país que fecha uma escola com edificio para aulas, ginásio, pátio e oficinas, 20.000m2 ... ato de simples barbárie). Como disse ao colega mais jovem que ficou no metro a dirigir o empreendimento do prolongamento da linha vermelha, e que ficou muito triste comigo, é muito difícil em engenharia não se encontrar uma solução viável em vez de se fazer o disparate que  está projetado (espetar uma estação em forma de barracão em pleno acesso à ponte 25 de abril e depois carpir porque não sabem como fazer o corredor verde que dá votos). No caso dos pilares dos viadutos para o acesso à ponte Chelas-Barreiro e quadruplicação da linha de cintura, é sempre possível poupar a escola e já agora a casa de S.Vicente. Mas como digo no ponto 4 do parecer que enviei ao participa (e que consta de https://fcsseratostenes.blogspot.com/2024/03/uma-unidade-de-execucao-de-marvila-em.html) a localização da terceira travessia devia ser revista. Dirá a IP que não e que já está tudo estudado. Pretensiosos, a IP não é dona dos terrenos nem do municipio, nem supervisora dos planos de urbanização e de ordenamento do território (não lêem a CRP, art 165.1.z). O PROTAML tem de ser revisto numa perspetiva integradora, incluindo a localização do aeroporto, da estação de AV de Lisboa, da rede metropolitana (implica a TTT). Se não estamos numa republica de bananas, não pode vir uma IP sem apresentar várias soluções estudadas e a comparação entre elas multicritério.  Não espere que o presidente ou o vice presidente o façam. O presidente não tem formação técnica para discutir o assunto e o vice presidente tem sempre razão e não responde aos argumentos contrários, inventa manobras de diversão. 

Quiseram a ponte Chelas-barreiro para manter a tradição das oficinas do Barreiro como apoio à AV e para servir o NAL de Rio Frio. Justifica-se o traçado Chelas-Barreiro? Não, desde Vitruvio que se sabe que os rios atravessam-se pelo caminho mais curto, Beato-Montijo. Mas é dificil a IP aceitar isto, até o prof Viegas explicou isto. Nada se conseguiu. Na ligação acima tem tambem duas hipóteses, relacionadas com  a mudança da estação de Lisboa de AV para o AHD (o projeto na Gare do Oriente obriga  pilares a furar uma sala técnica do metro... mas não é por isso, é porque se o aeroporto é para ficar mais uns anos, tem prioridade para a estação de AV).

Sobre o Campo Novo ou urbanização do Sporting no Campo Grande, não encontrei nada sobre consulta pública que tenha havido. Nas fotografias não tirei certezas sobre se é para construir o edificio gémeo  ao que existe adjacente à estação do metro de Campo Grande. De qualquer modo o arquiteto Saraiva que me perdoe, mas aquilo é uma desgraça, 7 blocos acaçapados  uns aos outros e ainda chamam luxo àquilo. Eu sei que o sítio é apertado, não dava para tanto bloco habitacional, de escritórios e de comércio, mas bicos de varandas a curta distancia será bom para Romeus e Julietas sem vertigens, mas repito com grande pedido de desculpa ao arquiteto, não é bom. Andam entretanto os nossos  ciclistas a pregar contra os lugares de estacionamento em parques em edifícios. Mau é estacionar-se na rua. Parques são essenciais na cidade para que os habitantes não vão morar para os subúrbios, e para que os moradores de bairros vizinhos que não tenham metro à porta possam deixar o carro quando vão apanhá-lo no interface, ao metro ou aos autocarros para a periferia . E como não temos redes de transporte público em todos os eixos de penetração no núcleo da cidade, e com capilaridade, não se podem pôr portagens em todas as entradas. 
Mas eu só queria falar da ponte e da desgraça da urbanização do Campo Novo.

Abraço

urbanização Campo Novo

quarta-feira, 27 de março de 2024

Queda da ponte de Baltimore em 26mar2024 por colisão de navio

Condolências às famílias das vítimas


 Artigo referido:

https://observador.pt/2024/03/26/pontes-como-25-de-abril-ou-vasco-da-gama-nao-resistiriam-a-embate-como-o-de-baltimore-nao-ha-hipotese-nenhuma-defende-especialista/


Artigo muito bem fundamentado nas entrevistas, de que destaco os cuidados a ter do representante dos pilotos. Nunca podendo garantir-se a segurança a 100% não deveremos entrar em pânico mas continuar com as corretas rotinas de monitorização e manutenção, e estudar medidas de redução das dimensões dos navios que entram no Tejo e o reforço e aumento dos maciços dos pilares das pontes (no caso de Baltimore, a proa do navio, muito pronunciada relativamente ao casco na linha de água, pode ter atingido diretamente o pilar, aliás subdimensionado para este tipo de navios, em forma de pórtico assente em 2 Vs invertidos e com maciço reduzido).

Como pode ver-se no video e o registo divulgado pelo NTSB confirma, o navio teve duas falhas de energia e logo a seguir à primeira o fumo que se vê no vídeo indicia que o motor foi colocado em marcha à ré o que, juntamente com a falta de controle do leme, impulsionou a popa para o bombordo (lado esquerdo), provocando a viragem para estibordo (lado direito) em rota diretamente sobre o pilar. Trata-se de fenómeno designado em inglês por propeller walk (https://en.wikipedia.org/wiki/Propeller_walk) ou pressão sobre a popa do turbilhão da corrente de água gerada pela rotação da hélice e ainda pela reação em sentido contrário ao da rotação da hélice como acontece nos helicopteros que necessitam de uma pequena hélice para anular o efeito. É  uma hipótese credível, se não tivessem acionado a marcha à ré, possivelmente o rumo correto ter-se-ia mantido e haveria tempo para lançar uma ancora. O registo audio confirmou a ordem de lançamento da âncora antes da colisão.

Navios deste tipo deviam ter duas hélices de eixos paralelos e não uma , sistemas redundantes de energia e hélices azimutais para melhorar a manobra, mas razões económicas ditam a poupança e o aumento da tonelagem. Veja-se o caso dos petroleiros de um casco só, a organização internacional levou anos para obrigar ao casco duplo. O vão da ponte de Baltimore tinha 360 m (a P25 de abril tem 1000 m e a PVG 420m) e os pilares deveriam  estar protegido por maciços significativos (apenas tem pequenas balizas com a agravante de ter ao lado pilares de uma linha de transmissão de eletricidade). Não ajudou o navio ter saído do porto às 0.44 sendo a maré baixa às 2.11 (colisão aos 1.28.44) 

O navio envolvido tinha capacidade para 10000 TEU e 300m de comprimento. Quando a ponte foi construída, 1977, os maiores navios eram para 2500TEU e comprimento 215m. Em 2013  18000 TEU e 400m.  Em 1980 a ponte de Baltimore foi também abalroada por um porta contentores mas de dimensão menor. Nesse mesmo ano a ponte Sunshine na Florida não aguentou o embate num dos pilares.

O porto de Lisboa para crescer necessita de um novo cais de águas profundas entre a Cova do Vapor e o Bugio. Não o construir implica prosseguir o assoreamento da foz do Tejo e o contínuo desperdício das areias da Caparica. Implica também correr riscos se se insistir na admissão de navios grandes. No caso dos grandes cruzeiros com a agravante de, em caso de avaria do sistemas de energia o estabilizador que compensa o exagero de altura fica fora de serviço por falta de redundância.



 Informação relacionada:

https://www.youtube.com/watch?v=wEkRjlSgIIQ

https://expresso.pt/internacional/eua/2024-03-26-Desmoronamento-da-ponte-em-Baltimore-nos-Estados-Unidos-falha-tecnica-no-navio-demasiada-carga-ou-escassez-de-recursos-tecnicos--bc52d164?utm_content=O+chumbo+de+Aguiar-Branco%2C+a+queda+da+ponte+e+os+fundos+do+Maestro&utm_medium=newsletter&utm_source=expresso-edd&utm_campaign=165e14e221 https://expresso.pt/internacional/eua/2024-03-26-EUA-ponte-em-Baltimore-desaba-apos-colisao-de-navio-varios-carros-cairam-para-o-rio-e-ha-20-desaparecidos-com-video-be580592


pilares do vão principal em forma de pórtico assente em dois Vs invertidos e reduzido maciço






https://interestingengineering.com/culture/baltimore-bridge-collapse-pictures-satellite?utm_source=theblueprintbyie.beehiiv.com&utm_medium=newsletter&utm_campaign=satellites-snap-baltimore-bridge-crash-implantable-batteries-europe-s-hyperloop




PS em 28mar2024 - Feitas umas contas em cima do joelho, que talvez possam ajudar a discutir convenientemente a resistência dos maciços e dos pilares à colisão, considerei 150.000 toneladas à velocidade de 8 nós (15km/h ou 4m/s):  
energia cinética na colisão                                          1200 MJ <> 300kgTNT
potencia envolvida durante uma colisão de 20s                                    60 MW
força de impacto durante 30m até à imobilização                              4000 ton 





Balizas de proteção (dolphins):

fita de tempo:


PS em 30mar2024 - Salvo melhor opinião, sem querer alarmar mas como análise de riscos, no caso da ponte 25 de abril,  e também sem pôr em causa o trabalho dos pilotos da barra (a causa principal do acidente de Baltimore foi a perda de energia do navio) parece-me que ou se reforça com para-choques resistentes os pilares da ponte ou se limita a tonelagem dos navios que entram no porto de Lisboa. Não o fazer é assumir o risco (produto da probabilidade de ocorrência pelo grau de gravidade das consequências) .


Abertura de canais temporários de recurso e petição da empresa proprietária ignorando as avarias dos manómetros desde o Chile, a intervenção nas máquinas no porto de Baltimore e a manobra de marcha à ré após o retorno da energia 

terça-feira, 26 de março de 2024

Mensagem para um senhor jornalista que comentou a questão aeroportuária em Lisboa

 

https://www.dn.pt/7209289510/aeroporto-socrates-ou-aeroporto-montenegro/


Caro senhor jornalista

Não estou seguro de que esta sua análise seja uma boa análise como já lhe tenho visto outras. Não sou especialista de aeronáutica e também por isso não me parece razoável tratar depreciativamente, usando o termo “sábios”, os autores do relatório da CTI. Não aprofundei a leitura dos  relatórios, mas pareceram-me válidas as competências dos seus membros. Houve um tema mais próximo das minhas competências de que discordei e na consulta pública enviei o meu parecer. Porém, colegas meus partilham da proposta sobre esse tema apresentado pela CTI. Apenas posso defender a minha posição com base nalguns pressupostos que não terão o acordo da CTI e de colegas meus, mas a engenharia, contrariamente ao senso comum, não é uma ciência exata e análises multicritério podem conduzir a classificações diferentes.

Passo a comentar algumas afirmações do seu texto que julgo justificam a sua correção.

1 – optar pelo investimento mais barato pode não ser uma boa solução se os custos de operação forem mais elevados (incluindo a amortização) do que o investimento na opção mais cara, ou se não tiver capacidade de crescimento para atender necessidades futuras.

2 – As áreas metropolitanas de S.Paulo e da cidade do México têm  , cada uma, mais de 20 milhões de habitantes, a de Lisboa não chega a 3 milhões. Não creio ser possível comparar, mas toca num tema importante que a imprensa deveria denunciar e que é a necessidade de  atualização do PROTAML.

3 – Como também não sou especialista, procurei informar-me sobre as ameaças para o aquífero que refere no CTFA. Retive a informação de especialistas que a complexidade do assunto não está suficientemente  esclarecida (https://novaresearch.unl.pt/en/publications/pmodelos-e-balan%C3%A7os-do-aqu%C3%ADfero-sedimentar-da-bacia-do-tejo-marge )

A considerar a penetração  da salinidade  estuário acima por rebaixamento do nível do aquífero, mas que os sobreiros não têm a exclusividade da recarga dos aquíferos (segundo algumas informações a área do sobreiral no séc.XIX era um pouco mais de metade da atual)  devendo incluir-se no caderno de encargos essa valência possivelmente com desvio de ribeiras e alargamento das suas bacias, e que evidentemente  a construção das áreas de apoio ao NAL deve ser contida (essencial garantir-se uma boa acessibilidade para quem trabalhar no NAL) tal como novas urbanizações, nomeadamente como se fez para as pontes 25 de abril e Vasco da Gama, fiscalmente através de imposto extraordinário junto com a licença de construção.

 

4 – Sobre Alverca, considere que se encontra em plena Reserva Natural do Estuário do Tejo. Sobre Santarém, considere a proximidade da base aérea de Tancos cuja pista tem um orientação sensivelmente leste-oeste

5 – Sobre as duas bases aéreas de defesa da capital, considere que o Campo de Tiro da Força Aérea não é uma base aérea de defesa, tem uma pequena pista de 1000 m, e que o relatório da CTI mostra no PT5 anexo VII  os valores das compensações à Força Aérea pela deslocalização da BA 6 e do CTFA (no entanto, julgo saber que nada impede a continuidade da BA6 como base de helicópteros de salvação marítima)

  6 – O “estratosférico  e superlativamente caro (mais de 10 milhões)” é o orçamento  da CTI, mas que também diz que para esse custo terá 4 pistas, cuja construção só será decidida se a procura o justificar. A mesma CTI no seu relatório (ver PT2 anexo V) estima menos de 3500 milhões para 1 pista no CTFA cpm o AHD como principal. Apresentar a questão deste modo desqualifica a opção AHD+CTA com ocultação parcial do perímetro dos custos.

7 – Sobre o custo zero considere que o contrato de concessão diz que o concessionário compromete-se a arranjar um financiamento que, ao longo dos anos com o benefício das receitas, daria um retorno positivo, o que desvaloriza o argumento do custo zero (sem significar que o NAL proposto pela CTI seria a custo zero)

8 – comentadores ilustres têm repetido que Canha-Alcochete (também pode escrever Montijo-Alcochete porque a localização preferida das 2 primeiras pistas  do NAL está no município do Montijo e as restantes no município de Benavente) fica  a mais de 50 km de Lisboa. Indo ao Google Earth e  ensaiando alguns percursos possíveis para a ligação ferroviária à gare do Oriente, temos 50km pela ponte Chelas-Barreiro, 41 km pela ponte Beato-Montijo, ou 37 km por uma ponte/túnel pelo norte de Alcochete até à foz do Trancão (pode dizer que este é um projeto megalómano, mas eu limito-me a elencar soluções tecnicamente válidas, neste caso como exemplo a ponte Copenhague-Malmoe ou o túnel em construção Fehmarn; mas não deve dizer que os custos da TTT são custos do NAL, uma vez que ela deve fazer-se, com ou sem NAL)

9 – penso que qualquer cidadão que analise a questão com calma concorda consigo sobre o aeroporto Humberto Delgado, há vantagens em mantê-lo por mais uns anos. Mas há que programar o seu fecho ou a redução substancial dos seus movimentos, não apenas eliminar a utilização noturna, por simples obediência às diretrizes comunitárias. É também o que a CTI diz, investir no AHD e amortizar esse investimento, mas o tempo passa e as obras para aumento da capacidade não avançam. Bem podemos ter fé nos futuros aviões “limpos”, elétricos, de descolagem vertical. A tecnologia tem limites, a origem do ruído é a deslocação das moléculas do ar, sem a qual não há sustentação nem movimento do avião… se substituir todos os automóveis da segunda circular por automóveis elétricos reduz o ruído mas ele continuará a ser incomodativo.

10 – o contrato de concessão  -  Precisamente para tornar o AHD menos intrusivo da cidade (a rota de descolagem quando está vento SW passa por cima de 5 hospitais, um deles psiquiátrico …) é que o contrato de concessão previu obrigações de desenvolvimento no anexo 9 ,  especificando para o AHD obras entre 2018 e 2021 para 13. saídas rápidas da pista 3, 14.entradas múltiplas na pista 21 e  17.expropriações para ampliação do taxiway U5

(ver https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/10/alguns-elementos-sobre-capacidade.html )

Essas obrigações permitiriam aumentar a capacidade, mas a Vinci/Ana preferiu fazer finca pé na ampliação do pier sul e no aproveitamento do Montijo e da parte do governo caiu-se naquela do Montijo ser a custo zero e assinou-se um memorando de entendimento em vez de cumprir simplesmente o contrato quando determina ao concessionário, se quiser uma alternativa ao NAL, que ela seja mais eficiente e menos onerosa do que a especificação do anexo 16 contrato, 90 movimentos por hora. 24 movimentos por hora da solução Montijo mas 48 do AHD não é mais eficiente do que 90 especificados. Logo, foi gestão danosa ter andado a acarinhar a solução Montijo.

11 – Eis por que me parece exagerada a preocupação da CTI em querer rever o contrato. Embora não seja admirador de quem o assinou pelo governo em 2012, ele não está tão mal redigido como isso, e considere-se a partilha de receitas em andamento.

12 – sobre as acessibilidades  - nestas coisas de transportes, não há custos zero, há-de haver sempre uma externalidadezita, é como nos almoços que nunca são grátis. Ainda que o promotor privado de Santarem pusesse por sua conta um ramal a servir uma estação da linha do Norte, ou que construísse um ramal de 30km até à linha de AV, ainda assim a perturbação causada pelo aumento da afluência de passageiros motivaria investimento adicional público (idêntica limitação da capacidade da linha de AV na solução proposta pela IP/CTI de chegar a Lisboa pela margem esquerda passando pelo NAL). Vamos que o “mais pequeno aeroporto”, como diz, tem 12 desembarques na hora de ponta ou 2400 passageiros. Se metade quiserem apanhar o comboio para Lisboa temos necessidade de mais 3 comboios por hora numa linha saturada. Se os outros 50% escolherem a autoestrada, estarão a aumentar o congestionamento e o risco de sinistralidade. Aumentando o tráfego aéreo …

13 -  continuando a falar de transportes, parece inquestionável que a área metropolitana de Lisboa precisa de fazer o planeamento a sério do ordenamento e da mobilidade do seu território. Para isso há que atualizar o PROTAML, agora integrado no PROTLOVT. Como referi no ponto 8, a construção da TTT (ponte, túnel ou mista) terá de se fazer para serviço ferroviário de AV, mercadorias, inter-regional, suburbano e eventualmente rodoviário, a linha de AV Lisboa-Madrid terá de se fazer, é um imperativo comunitário, haverá ainda a considerar a quarta travessia Trafaria-Algés. São investimentos não imputáveis na totalidade ao NAL.

14 – ainda falando de transportes - Apesar de tudo, faço uma apreciação geral positiva do trabalho da CTI, com análises técnicas que me parecem bem fundamentadas e com aplicação correta da avaliação multi critérios. Mas não posso concordar, possivelmente por deformação profissional, com a proposta pela margem esquerda. Cingiram-se ao que a IP lhes disse para a AV e a TTT. Deviam ter estudado alternativas  ( ver pág 231 e pág.281 em                       https://aeroparticipa.pt/relatorios/relatorio_consulta_publica.pdf    ).            Neste  caso particular acho que andaram mal.  A proposta de acessibilidade ferroviária que apresentaram não é aceitável, a IP não tem competências para decidir, nem qualquer governo que é executivo e constitucionalmente sem competências legislativas neste assunto, se a AV é pela margem esquerda ou direita nem decidir o local da TTT. É necessário primeiro aprovar o PROTALOVT como aliás refere a CTI, embora sem se comprometer.

 

Conclusão – não parecerá que AHD e Montijo, ou Santarem, sejam dois bons aeroportos, um por estar no meio da cidade, outro por não ter capacidade de expansão, outro pela distancia. Também não parece que atualmente haja duas bases aéreas próximas da capital. A escolha de um novo aeroporto, ou mais corretamente, o planeamento do aumento da capacidade aeroportuária da região de Lisboa deve fazer-se de uma forma integrada e escalonada no tempo permitindo tomar as opções reais mais indicadas em cada fase de desenvolvimento, eventualmente com desistência de opções que se revelem desadequadas, em vez de tomar decisões avulsas (método de planeamento com opções reais ou “do corredor progressivo”)..

 

Apresento os melhores cumprimentos e votos de saúde e de sucesso profissional