domingo, 19 de junho de 2011

Tentativa de resposta a uma questão de Alvaro Santos Pereira num artigo da macroeconomia divertida

Caro senhor Professor

Em primeiro lugar, embora não tenha votado nos partidos do governo, as minhas felicitações e votos das maiores felicidade no dificil cargo, o que será bom para todo o País.
Há uns anos contactei-o no seu blogue, teve a amabilidade de me responder,  mas não dei seguimento ao contacto.

Envio-lhe este comentário, pedindo desde já desculpa para a minha imodéstia em julgar que conheço razões para um problema, porque na sua crónica da Macroeconomia divertida, O valor da Educação,  do NS de 2011-06-18 pediu resposta para a seguinte questão:


Questão de ASP: porque será que se mantém o baixo valor dado à educação pelas gerações de emigrantes portugueses?
Enquadramento:
1- as minhas duas avós eram analfabetas; licenciei-me em 1970, ano em que existiam apenas 30.000 cidadãos e cidadãs portugueses licenciados!!
2 - Portugal atingiu 50% de população alfabetizada no século XX, a Espanha no século XIX, a França no século XVIII, a Alemanha e a Inglaterra no século XVII, a Escandinávia no século XVI, funcionando o respetivo século como indicador do alargamento da capacidade de intervenção na vida económica e no progresso económico por faixas cada vez maiores da população
3 - o que mais me impressionou quando comecei a minha vida profissional no metropolitano de Lisboa, em 1974, foi o baixo nivel de habilitações literárias da maioria dos funcionários (coisa que não se verifica atualmente), quer ao nivel escolar quer ao nivel escolar profissional (o que não impedia o alto nivel profissional de grande parte deles), indiciando a preocupação dos pais em colocar rapidamente os filhos a "ganhar a vida"
4 - só após o 25 de Abril de 1974 se generalizou a preocupação das famílias em assegurar um curso superior aos filhos
5 - a experiencia ensina que, apesar dos acessórios que a tecnologia vai continuamente pondo ao serviço das novas gerações, apesar das melhorias das condições de vida, e apesar do progresso nos conceitos de direitos da mulher, a tendencia natural é as novas gerações reproduzirem os comportamentos da geração anterior, desde hábitos de alcoolismo (ou outras drogas) ao desprezo pela cultura entendida como clássica, ao desprezo pelas regras de segurança rodoviária, ou ao prosaico desprezo pela matemática e pela física (diz o pai para o filho: não te preocupes, que eu no meu tempo tambem tinha negativa a matemática); nos casos extremos, é muito dificil a jovens cérebros (6-10 anos) evitarem danos irreversiveis em termos de capacidade de aprendizagem se o seu desenvolvimento escolar não for bem acompanhado, isto é, dificilmente os filhos de emigrantes mal integrados poderão ser profissionais qualificados mais tarde
6 - neste sentido, apesar da crescente "escolarização" verificada em Portugal, o insucesso e o abandono escolares são outra forma de exprimir o desprezo pela cultura e educação, e de reproduzir o comportamento das gerações anteriores de privilegiar o começar a trabalhar na adolescencia em vez de estudar
7 - pelo que conheço, e que é pouco, das gerações novas, filhos de emigrantes portugueses, verificar-se-ão em quantidades significativas os dois casos:
7.1 - jovens perfeitamente integrados na sociedade, com empregos qualificados a todos os niveis (julgo que isto se verifica mais em França)
7.2 - jovens perfeitamente marginalizados que não beneficiaram de acompanhamento eficaz durante o periodo critico de aprendizagem cognitiva antes dos 10 anos e que por isso reproduzirão a condição de não qualificação ou de não inclusão dos progenitores (são casos típicos os de mães portuguesas que não falam inglês) ou, pior que isso, enveredarão pela criminalidade ou pela não inclusão (julgo que isso se verificará mais nos USA e no Canadá); a atitude de alguns emigrantes de não preocupação com o sucesso escolar dos filhos contrasta com a prática dos emigrantes  mexicanos que têm como objetivo que os filhos falem inglês perfeitamente, embora seja verdade que por razões geográficas e históricas existe emigração mexicana para os USA há mais tempo do que de Portugal
Conclusão - considerando o exposto, a justificação económica para o baixo valor dado à educação por parte das novas gerações de emigrantes será a justificação económica da incapacidade educacional e financeira de acompanhamento do percurso escolar pelos pais das crianças, que assim são vítimas de insucesso escolar e de limitação do desenvolvimento das suas capacidades cognitivas. Ficará assim ao critério de cada um eleger as causas, desde um regime laboral que implica a chegada a casa do pai emigrante esgotado,até à ineficiencia de programas de inclusão e integração das mães emigrantes, à ineficiencia de programas de substituição do papel de pais quando incapazes do tal acompanhamento, às limitações orçamentais que conduzem diretamente a essas ineficiencias, às politicas de estimulo ao desemprego para contenção de custos, etc, etc.

Aproveito, abusando da sua paciencia,  para manifestar as seguintes duvidas:
1 - quando cedemos à pressão publicitária e compramos Mercedes, Hyundais e outros automóveis, e quando compramos Smartphones, qual a percentagem dos 78 mil milhões que vão ser reexportados para pagar estes gadgets?
2 - terá o seu Ministério disponibilidade para divulgar o que pensa das 25 medidas propostas no livro de Luis Monteiro "Os ultimos 200 anos da nossa economia e os próximos 30 anos"
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/10/economicomio-lxi-as-medidas-contra.html
3 - no caso do TGV Porto-Lisboa-Madrid, terá o seu Ministério disponibilidade para considerar a eficiencia energética (energia consumida por passageiro.km) como um dos principais fatores de decisão por um modo de transporte, o que justificaria reivindicar junto de Bruxelas mais verbas a fundo perdido do que as anunciadas e divulgar o que pensa desta argumentação
http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/09/madrid-lisboa-de-aviao-ou-de-tgv.html    ?

Os melhores cumprimentos

F.Santos e Silva

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